quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Dia de São Martinho vai à Adega e prova o Vinho

No dia 11 de novembro Portugal comemora o dia de São Martinho, é mais uma festa do calendário do catolicismo popular que tem como tradição reunir familiares e amigos para a prova do vinho novo das uvas colhidas no corrente ano. É o dia que se bebe aguapé, um vinho clarinho de baixo teor alcoólico, que sinaliza como vai ser o vinho propriamente dito e, para degustar a aguapé nada melhor que as castanhas portuguesas novas assadas na brasa. 
O dia São Marinho é mais uma das traições festivas do antigo calendário de transição das estações (outono para o inverno), quando já finalizaram as grandes colheitas das uvas, das castanhas e das azeitonas em quase todo território lusitano. 
É a festa preparatória para a chegada do inverno e da grande expectativa para avaliação do vinho novo.
Em 2014 vivi mais uma dessas experiências com familiares e amigos em Portugal, tomei aguapé e provei o vinho novo no dia de São Martinho, produzidos por familiares e também participei da colheita da castanha. 
O vinho novo com castanhas assadas é uma boa combinação que bebendo e comendo moderadamente faz bem ao corpo e à alma. 
No dia de São Martinho bebe-se vinho, come-se castanhas, até porque assim como o pão, o azeite, a sardinha e o bacalhau, não são apenas alimentos, mas bens culturais imateriais centenários da cultura portuguesa.

E assim reza a lenda de São Martinho:

Num dia frio e chuvoso de inverno, Martinho seguia montado a cavalo quando encontrou um mendigo. Vendo o pedinte a tremer de frio e sem nada que lhe pudesse dar, pegou na espada e cortou o manto ao meio, cobrindo-o com uma das partes. Mais à frente, voltou a encontrar outro mendigo, com quem partilhou a outra metade da capa. Sem nada que o protegesse do frio, Martinho continuou viagem. Diz a lenda que, nesse momento, as nuvens negras desapareceram e o sol surgiu. O bom tempo prolongou-se por três dias”. (Fonte: http://observador.pt/2014/11/11/historia-sao-martinho/)

O verão de São Martinho é um pequeno período de calor em pleno outono, ou seja, as nuvens negras desaparecem e o sol chega com toda força apresentando mais alguns dias de verão no mês de novembro.
As roupas de frio são guardadas por pouco tempo, saímos às ruas de casa em casa visitando famílias e amigos para provar do vinho e festejar assim o São Martinho. 
Para o verão de São Martinho existem diferentes explicações meteorológicas que justificam o fenômeno da natureza que todos os anos provoca poucos dias de calor no meio da estação do outono mas, fiquemos por aqui com a lenda de São Martinho, o que desejo mostrar é a minha experiência vivida na colheita das castanhas e na prova do vinho no dia do santo mártir da igreja católica, cujos feitos são celebrados com grandes festas, assim como a Festa de São Martinho da Golegã (para conhecer melhor a festa da Golegã acesse: http://feiradagolega.com/). 

No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho 
No dia de São Martinho, castanha, pão e vinho
No dia de São Martinho aguapé e o bom vinho.























Fotos: Osvaldo Meira Trigueiro e Rosa F. Neves Trigueiro

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Dia do Bolinho uma tradição portuguesa


A igreja católica celebra no 1 de novembro o dia de Todos os Santos (Festun Minium Santos), em memória dos santos mais venerados aos desconhecidos e daqueles que foram mártires e lutaram em defesa da fé cristã. Quando o Papa Gregório III (731-741), mandou construir uma capela em Roma em homenagem a todos os santos determinou que a partir de então o dia 1 de novembro fosse reservado para as liturgias a todos os santos. O Papa Gregório IV, por volta de 835, determinou que nessa data fosse festejado, pela igreja católica, no mundo inteiro o dia de Todos os Santos e, no dia 2 o dia de finados. Portanto, a partir daí as festividades do dia de Todos os Santos passaram a ser realizadas em todas as igrejas católicas do mundo.
Muito antes da igreja católica determinar que o 1 de novembro passaria a ser o dia de Todos os Santos, os povos celtas, há centenas de anos, já realizavam a festividades de Samhais, a festa da despedida do outono, da chegada do inverno e do ano novo. Ou seja, provavelmente, o dia de Todos os Santos, no 1 de novembro, seria mais uma das estratégias da igreja de incorporar as datas festivas pagãs ao seu calendário litúrgico.
Os povos celtas dividiam o tempo e o espaço pelas estações do ano seguindo o movimento do sol e as fases da lua. Ao longo dos anos as festividades pagãs foram sendo incorporadas ao calendário litúrgico do cristianismo e essas movimentações no tempo e espaço deram origem a quase todas as festas do catolicismo popular. Portando, a festa do dia de Todos os Santos ou a festa do Dia do Bolinho, provavelmente tem as suas origens nas antigas festividades de passagem de ano dos povos celtas, na festa de Samhais.

A festa do Dia do bolinho de Vilar dos Prazeres em Portugal

A tradição festiva do dia de Todos os Santos vem se perdendo no tempo em Portugal, mas em Vilar dos Prazeres uma pequena vila pertencente ao município de Ourém e próximo de Fátima continua bem viva e festeja o dia de Todos os Santos com muita distribuição dos bolinhos de nozes e com mesas fartas. Ou seja, é o dia da festa da distribuição do Pão-por-Deus e por esse motivo é mais conhecida como o Dia do Bolinho.
As crianças saem às ruas da vila de casa-em-casa com uma saquinha de pano pedindo o bolinho de todos os santos. Essa é uma celebração festiva que já vem de muitos anos em Vilar dos Prazeres e que até hoje a família Faria Neves mantém a tradição da oferta do bolinho no dia de Todos os Santos ou Dia do Bolinho. A casa de Eugénio e Judite é uma das referências de distribuição do bolinho em Vilar dos Prazeres, é visitada neste dia por centenas de crianças que passam pedindo os bolinhos.
Ó tia dá Pão-por-Deus
Se não tem Dê-lho Deus!
Pão-por Deus
Fiel de Deus, bolinho no saco
Andai com Deus
                    Ou ainda:
Ó tia dá bolinho,
Em louvor de seu santinho,
Senão leva com a tranca no focinho

Ou simplesmente:
                                            Ó tia dá bolinho!

Na casa de Eugénio e Judite além da distribuição dos bolinhos são ofertados o pão, a broa, os frutos secos e para os adultos, que quase sempre acompanham os seus filhos, tem a ginja e o vinho. Em 2014, mais uma vez eu e Rosinha participamos da festa da família Faria Neves no Dia do Bolinho na casa Eugênio e Judite com outros parentes e amigos que vieram de Lisboa, Leiria, Fátima e tantos outros lugares. A casa fica cheia, netos, sobrinhos, amigos, vizinhos e até mesmo crianças desconhecidos que passam com as saquinhas pedindo os bolinhos. Dias antes Judite com ajuda dos familiares e amigos fazem centenas de bolinhos, organizam as cestas com os bolos, as broas, os frutos secos, as garrafas de ginja e vinho, tudo produzido na casa do casal.
A mesa é arrumada com todas as ofertas que serão distribuídas, debaixo de uma antiga figueira no lado externo da casa que dá para o portão principal, para ficar mais visível e com melhor acesso das crianças para receberem o Pão-por-Deus no dia de Todos os Santos, melhor dizendo, no Dia do Bolinho. 
E assim a tradição do Dia do Bolinho vem resistindo ao tempo, se mantendo viva em Vilar dos Prazeres graças as famílias da localidade, especialmente a família Faria Neves que durante muitos anos mantem a tradição de realizar as festividades do Dia do Bolinho e a animação maior é sempre na casa de Eugenio e Judite.
          
                  
                            Ó tia dá um bolinho.